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Um Vale Industrial

Já vai de certo modo distante o alvorecer da indústria em Vale de Cambra que começou, principalmente, no fabrico de manteiga, ligada à criação de gado vacum. Com solos férteis, ricos em pastagens, proporcionaram o surgimento da primeira indústria de lacticínios do País.
Referimo-nos à «Fábrica de Lacticínios do Valle de Cambra» criada no início do século XX.

Até fins do século XIX o fabrico da manteiga era caseiro, tratada e salgada em potes especiais, onde se acondicionava. A manteiga de Vale de Cambra era apreciada em todo o país, especialmente nas grandes cidades, para onde era transportada pelos próprios fabricantes da região.

Com o aparecimento das desnatadeiras centrífugas proliferaram os produtores individuais de manteiga. No limiar do século XX, terão surgido as primeiras empresas ligadas aos lacticínios. Sabemos da existência da «Fábrica de Lacticínios do Valle de Cambra», conhecida pela sua manteiga «Alliança», e da Martins e Rebelo cuja constituição data do ano de 1906 e que prolongou a sua atividade até bem perto do século XXI.

Durante e após primeira guerra mundial, deram-se transformações importantes que vieram impulsionar a atividade industrial na Europa, com repercussões, naturalmente, no nosso País e no concelho.

As pequenas unidades caseiras até então predominantes, de atividade reduzida, expandiram-se e surgiram novas serrações e latoarias.

Em 1914 ter-se-á dado o surgimento da indústria de latoaria em Vale de Cambra, com a constituição da primeira empresa do ramo de embalagens metálicas, a Ribeiro e Irmão, Lda. A segunda terá sido a firma Almeida & Freitas, empresa que associou a latoaria e a serração e caixotaria na mesma unidade fabril, no mesmo local onde hoje ainda funciona. Terá sido criada em 1922, após um incêndio que pôs fim à “fábrica de esmalte” de Manuel Francisco da Silva que aí funcionava. Trata-se de um património de inestimável valor e se encontra localizado no centro urbano.

Em 1928 com o fornecimento da energia elétrica a algumas unidades fabris, entre as quais à Martins e Rebelo, a indústria sofreu novo incremento.

Depois, já nos finais do ano de 1939 o Estado criou a Junta Nacional dos Produtos Pecuários cuja ação veio a refletir-se no sector dos lacticínios, obrigando os produtores a organizarem-se com o objetivo de se obter melhores condições técnicas e de higiene na produção da manteiga.

Em 1940 alguns produtores associaram-se e criaram a conhecida Lacto-Lusa que iniciou a sua atividade em 1941. Outros, que não quiseram associar-se mas tão-somente enquanto obtiveram licença para tal, permaneceram fora mas cedo foram absorvidos. Outros ainda venderam de uma forma definitiva tudo o que se relacionava e servia para a produzirem. Outros ainda, passaram a vender unicamente o leite à Lacto-Lusa e à Martins e Rebelo.

Em 1942, a indústria de lacticínios estava subordinada a estas duas empresas, instaladas em edifícios próprios e com máquinas que lhes permitiam extrair do leite manteiga e queijo.

A necessidade de armazenamento destes produtos lácteos proporcionou o desenvolvimento das serrações de madeira e caixotaria e o aparecimento das indústrias de embalagem metálicas.

A firma Ribeiro e Irmão terá sido a primeira indústria de embalagens metálicas que surgiu no concelho.

Almeida e Freitas iniciou a sua atividade no ano de 1922, no mesmo local onde Luiz de Souza Moreira instalou um dínamo de produção de energia elétrica, associado à “fábrica de esmalte”, até então existente. Neste mesmo local estabeleceu-se a firma Almeida e Freitas e é o mesmo local aonde funciona atualmente.

No campo da metalurgia, o incremento foi extraordinário. Montaram-se fábricas e oficinas do mais variado labor, principalmente no fabrico de peças e maquinaria para a indústria de lacticínios e de embalagens metálicas. Pela quantidade e qualidade dos seus produtos afirmaram em todo o país o valor industrial do novo concelho.

A indústria de reparação e de produção de equipamentos para estas empresas iniciou-se sobretudo pelas mãos de Arlindo Soares de Pinho, sobretudo quando fundou, em 1942, na Relva de Vila Chã, a indústria metalúrgica com o seu próprio nome. Antes, em 1937, estabeleceu-se com uma serralharia de reparação e de produção de peças para a indústria existente.

Em 1950 surge a Rimarte, uma empresa fundada por António Ribeiro, sobrinho de Manuel Ribeiro, fundador com o seu irmão da primeira indústria de latoaria.

Em 1953, surge a Progresso.

Na década de sessenta do século passado, a Progressso cria novas instalações e Álvaro Pinho da Costa Leite funda a Vicaima.

É nesta mesma altura que surge a Adega Cooperativa e a Cooperativa Agrícola dos Lavradores de Vale de Cambra, mais tarde, associada fundadora da Uniagri com o seu complexo agro-industrial.

Em 1965 surge a Colep.

Após 25 de Abril de 1974 a economia concelhia é objeto de novo incremento.

Com a entrada de Portugal na CEE, as relações económicas alteram-se, surgem novas empresas, novos modelos organizacionais e outras encerraram.

Hoje a Arsopi é uma referência no panorama nacional e internacional, na produção de equipamentos e reservatórios em aço inox.

A indústria das embalagens metálicas e a indústria que utiliza o aço inox como matéria-prima proliferam. Também a indústria de cabos elétricos, automação e associadas são cada vez mais uma importante referência no panorama industrial do concelho.

Refira-se que a Arsopi, a Metalúrgica Progresso, a Colep e a Vicaima encontra-se em atividade. A adega Cooperativa dos produtores de vinho, também.

Cooperativa Agrícola dos Lavradores de Vale de Cambra e a Uniagri, criada nos finais do Estado Novo, atravessou, após o 25 de Abril de 1974, por um período difícil. Foi intervencionada pelo Estado, não sobreviveu às inúmeras dificuldades.

A Martins e Regelo passou também por uma situação semelhante e encerrou portas no limiar do século XXI.

A Rimarte encerrou portas antes do términus do século XX.

A Lacto-Lusa foi vendida em 1994, a um grupo financeiro. A sua sucessora funciona em instalações novas em Teamonde – é a Bel Portugal, atualmente de capitais franceses.

Mas, de Vale de Cambra, hoje, pode dizer-se com propriedade que adquiriu título e honras de concelho industrial, quer pelo crescimento do seu parque industrial, quer pelo incremento da atividade que, neste domínio, se fez sentir nos últimos anos do século XX.

Aqui se encontram instaladas empresas que, nos variados sectores de atividade económica, são, pela robustez dos seus recursos, não somente importantes para o desenvolvimento socioeconómico do concelho, pelos milhares de postos de trabalho que empregam, como para a economia nacional, pelo volume das suas transações.

(Este texto não obedece ao acordo ortográfico)

Ângelo Pinho